Suspeito que, em nossos dias, a sensibilidade ou a percepção aguçada dos sentidos sensoriais deixaram de existir na essência de cada ser, principalmente entre os mestres e os líderes, seus espelhos e executores de funções. A percepção aguçada permite identificar se alguém próximo está bem, se necessita ser ouvido para que possa resolver um problema, ou se é preciso auxílio para caminhar pelas veredas[1] da vida, sem negar a arte da dúvida, tampouco a importância de se recomeçar quando se faz escolhas enganosas, corrigindo erros
e perdoando às pessoas. Não se deve confeitar a vida; fantasias à parte, viver é sofrível, porém compensador. E amadurecer está além de passos e procedimentos simplistas sentenciados em livros de autoajuda.
Há muitas palestras, vídeos e livros que abordam temas referentes aos benefícios da cooperação, a prática de grupos de trabalho e de estudos, inclusive sobre religião, como forma de promover o fortalecimento de cada participante. Contudo, essas ações promovidas por lideranças supremas ou mestres não servem apenas para propagar mensagens às castas menores de líderes que, por sua vez, repassam-nas aos liderados, como se estas fossem estimuladoras a ponto de serem seguidas à risca e sem dúvidas? Os liderados, por não terem coragem de expressar que tais palavras são vazias, agem como bons receptores, vazios, já que as mensagens não promovem significado para as suas vidas, à sociedade, à empresa, à equipe ou ao projeto, ou por olharem o mundo/as circunstâncias através de lentes embaçadas, trincadas ou sujas. Parcela de esforços perdidos dos mestres e dos respectivos líderes ocorrem por não perceberem como esses conteúdos perdem-se até chegarem aos liderados/receptores. O executivo, as lideranças supremas e os mestres enquadram-se no conceito de pastor de ovelhas; aquele que cuida individualmente de cada uma que integra seu rebanho e não deixa que o grupa perca-se, certificando-se de que os animais estão sadios e que não necessitam de muita atenção para que os esforços sejam direcionados aos que estão vulneráveis. (Ver um exemplo em Lucas 15.3-7).
Será que os líderes de equipe ou de pequenos grupos, coordenadores e supervisores, que respondem diretamente aos superiores, executivos, diretorias, bispos ou pastores estão preparados para cuidarem dos membros da mesma forma que cuidaria um pastor de ovelhas? Estão preparados para as adversidades, sem adotar a política do descarte ou o desprezo pelos mais fracos? Quanto a esse aspecto, pode-se consultar Ezequiel 34.1-24. No contexto de Ezequiel, pastores não exerciam corretamente suas
funções e passaram a explorar seu rebanho “visto que o meu rebanho ficou sem pastor, foi saqueado e tornou-se comida de todos os animais selvagens, e uma vez que os meus pastores não se preocuparam com o meu rebanho, mas cuidaram de si, em vez de cuidarem do rebanho,”. Percebemos, em Ezequiel 34:8, que existem os que terceirizam responsabilidades, crescendo em número de membros nos templos. Transmitem a responsabilidade para os líderes de pequenos grupos/células, cegos das armadilhas e das artimanhas do poder. Isso é bem referenciado em João 10.12,13. Há empresas que crescem rapidamente valendo-se de metas agressivas, de opressões e de assédio moral, visando ao cumprimento de resultados/metas meramente satisfatórios a acionistas opulentos. Por isso, demitem bons funcionários e permitem que outros adquiram diversas doenças incuráveis. Destroem o pouco que resta desses funcionários perante a sociedade e ao mercado de trabalho: a alma e a dignidade de viver e de se reerguer após traumas desnecessários.
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.” João 10:11-15
Figura 2: Retorno obtido: mensagem obscura, sem clareza (representada pela nuvem) e líderes de equipes/membros dispersos, nas bordas da nuvem ou fora dela.
A tutoria morreu em muitos executivos, mestres, bispos, pastores e nos subordinados, demais líderes. Os que ensinam da tribuna mantêm-se distantes dos ouvintes situados no pavimento e pouco crédito lhes é dado. Os mestres, executivos etc., sentam-se com os líderes, ouvem-nos e acreditam que todas as informações repassadas, referentes aos demais membros, são verdadeiras ou fiéis.
Diz o jargão popular: “A pressa é a inimiga da perfeição.”; porém, a perfeição aconteceria ao lado dos que possuem o dom da tutoria, tutores sábios, de percepção aguçada dos sentidos sensoriais (permite enxergar o individuo além das aparências físicas, como o semblante aparentemente alegre, a riqueza das palavras proferidas e seu significado, medos e receios não expressos ou resolvidos; o preparo para a vida, perdas e incertezas, e o desbravar das escolhas), capazes de transformar pessoas em servos corajosos, que se transformam em líderes, mestres, executivos, bispos, pastores ou presidentes, sem serem orgulhosos e arrogantes.
Conteúdos adicionais a leitura
LinkedIn: O ensino peripatético da manufatura enxuta ou Lean Walk. Acessado em: 14 de outubro de 2016.
Vídeo – Tem alguém aí? – Gabriel Pensador . Acessado em: 14 de outubro de 2016.
Vídeo – Casting Crowns – Does Anybody Hear Her? . Acessado em: 14 de outubro
de 2016.
[1] Vereda: Caminho apertado (desprovido de espaço); sendeiro. Caminho alternativo pelo qual se consegue chegar mais rápido a um determinado local; atalho. Terreno alagadiço ou brejo, normalmente localizado perto da encosta de um rio e encoberto por uma vegetação rasteira. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/vereda/>. Acesso em: 20 out. 2016.