O início de um novo ano gera expectativas em todos nós, desde a criança sonhadora, que almeja conquistar um presente novo de seus pais ou avós, a jovens com expectativa de ingressar no mercado de trabalho e outros tantos, aguardando uma nova oportunidade para crescerem na empresa ou terem reajuste salarial digno. Ainda há os pais à espera de que os filhos tornem-se mais compreensivos ao invés de serem estressados, que sejam modelos para a sociedade moderna não possuidora de padrão adequado de vida aos jovens; os idosos, com poucos anos de vida adiante, aguardam o tempo restante de forma alegre, com o coração ardendo por visitas frequentes dos filhos e netos, aguardando que os primeiros perdoem suas ações passadas, causadoras de dores ou revoltas; afinal, a solidão castiga tanto quanto algumas doenças.
Janeiro traz um sentimento ilusório: as dores parecem findar, e os dias parecem melhores. Assim, os corações de muitos são contagiados, clamando por mudanças, visualizando horizontes de possibilidades. Planos são feitos; metas, traçadas e…um vazio. Mas por quê?
Conhecemo-nos de fato a ponto de descobrir o motivo de nos sentimos sempre vazios? Conquistas são feitas, alguns amigos entram em nossos corações, outros saem sem percebermos, os parentes tornaram-se distantes e estranhos, ou existem os eternos concorrentes quanto à corrida pelo bem-estar pessoal, pela prosperidade e pelo status familiar. Corremos para sermos melhores, segundo o conceito que nos tem sido ensinado, mas não percebemos que eles têm deixado a sociedade fria e solitária. Vivemos na era digital, na qual a tecnologia evoluiu e está mais presente entre nós em relação há alguns anos. O que mudou, afinal, para que haja esse vazio?
O mundo globalizado transformou a cultura de muitos países e várias pessoas. A principal dessas mudanças está em TER para SER alguém de valor ou de importância social. A globalização ensina a consumir, utilizando mecanismos para que se faça consumir sem haver uma reflexão quanto ao ato compulsivo de compra. Consomem-se filmes, animações, séries diversas. Tudo isso apenas diverte e distrai, assim como produtos alimentícios não essenciais ou tecnologia diversa a fim de manter cada um distante da realidade da vida e do essencial.
- Parentes querem saber o que foi feito nos últimos dias e o que você adquiriu, mas não se preocupam com a união e o bem-estar familiar. Tios não são mais conselheiros dos sobrinhos. Primos compartilham modismos e tecnologia, mas não sabem relacionar-se sem algum tipo de tecnologia.
- Estudantes universitários adquirem informações prontas, ou seja, não têm trabalho algum de usarem a mente para obterem êxito nas atividades, utilizando-se da pesquisa em livros didáticos. Eles sequer estudam ou vão além do conteúdo passado nas aulas, e bem poucos leem um livro relacionado à profissão escolhida. Preocupam-se apenas com o diploma e em ganhar muito dinheiro, imediatamente.
- Amigos compartilham mais conquistas do que sentimentos e medos.
- Quanto à estética, a mulher passou a ser objeto de consumo graças à tecnologia têxtil. Esta modela os corpos e, mesmo vestidas, elas andam nuas, com corpos expostos. Os homens são forçados a mudar seus corpos e as vestes para atraírem mulheres. Assim, ambos consumem por troca de prazer, graças aos padrões preestabelecidos na sociedade, por meio de diversos meios de comunicação. Culto ao corpo; todos precisam ser belos, e tal beleza, provada. O sistema atual ensina que tal forma de vida é boa e torna o homem mais completo.
Afinal, o que esperar de um novo ano?
O mundo foi construído há séculos, em alicerces de moral e ética, com valores baseados na igualdade e no bem-estar de todos, geralmente após conflitos de interesses e guerras obsessivas, à custa de sangue e de inocentes. O mundo global está desfazendo-se desses princípios conquistados e adiciona muitos costumes modernos, liberando os prazeres do homem para que sejamos felizes e completos, não tendo mais a angústia do erro e da perversão, tornando o ser humano compulsivo e irracional.
Um ano novo só poderá trazer novidade se voltarmos às origens. E uma delas é SER e, não, TER. Dessa forma:
- Ser amigo…
- Ser amável…
- Ser bondoso…
- Ser caridoso…
- Ser compreensivo…
- Ser tolerante…
- Ser sábio…
- Ser fiel…
- Ser humilde…
- Ser feliz com pouco…
- Ser honesto.
TER é uma consequência de trabalho e esforço. TER o essencial.
- TER um Samsung Galaxy ou iPhone NÃO o deixa mais feliz.
- TER um carro NÃO o deixa mais próspero. A manutenção com peças de qualidade é cara.
- TER mulher bonita NÃO quer dizer coisa alguma. Muitos homens querem mostrar poder, mas apenas a usa para satisfação pessoal, até que outra mulher apareça. No fundo, não conseguem AMAR, pois foram consumidos pelo prazer da satisfação rápida e pela falta de compromisso.
- TER homem bonito NÃO quer dizer coisa alguma. Há mulheres que querem apenas STATUS ou dinheiro para saírem para locais elegantes, restaurantes chiques, consumirem bebidas caras, realizarem viagens, conhecerem hotéis, parques, cinemas etc. BELEZA NÃO GERA AMOR.
- TER TV de última geração, assistir a canais pagos, TER NetFlix NÃO o tornam sábio ou inteligente, apenas mais ignorante, pois tudo isso irá dominá-lo por completo, tornando-o mais alienado e conformado com o mundo atual. Fará você acreditar que seu conteúdo programático é verdadeiro. A sabedoria é obtida pelo esforço e pela prática, com erros e acertos, por meio de estudos, pesquisas, experiências e relacionamentos.
- TER o melhor emprego NÃO o torna mais feliz, e este sempre ficará insatisfeito com você, porque haverá tecnologias e sistemas novos para deixá-lo desatualizado. Se você conseguir acompanhar tais evoluções, será forçado a abdicar-se da família, dos filhos e daquilo que mais ama. No geral, o mercado de trabalho é frio e sem coração. Talvez, no final da vida, haverá arrependimento caso consiga se aposentar, ou se ainda restar saúde para usufruir do restante dos seus dias, considerando o êxito em não morrer de câncer, AVC ou subitamente, por qualquer motivo.
Consumamos menos, pensemos mais, economizemos dinheiro, reavaliemos as paixões. TER, TER, TER sempre o deixará sem o fundo financeiro necessário à construção de uma vida baseada na construção do SER. Preocupemo-nos em obter EDUCAÇÃO e a pô-la em prática, a estimular a mente, a contemplar a vida e a estimular a moralidade.
SER! Então, SEJA aquele que traz mudanças a alguém. SER abre a visão para as necessidades alheias. Não há recompensa que pague o alívio de um coração partido quando palavras sábias de consolo são expressas. SER abre a visão para um país melhor, rejeitando a destruição de famílias e crianças que vivem à margem da sociedade, porque não foram atendidas pelas políticas egoístas e fraudulentas dos governos. SER sai às ruas e protesta contra a corrupção política e a social.
SER não quer bem-estar pessoal, mas o do próximo. SER fará de nós melhores, e também com que o novo ano seja melhor.
Ao se perder a saúde, perde-se tudo. Se planejarmos um ano baseado nos conceitos atuais, haverá um vazio a ser preenchido e um novo produto para satisfazer tal necessidade. Eis um processo sem fim; para um vazio no homem, haverá sempre um produto/tecnologia/modismo a preenchê-lo.
Reflexão
“Que aproveita a um homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Que daria um homem em troca da sua vida?” Marcos 8.36,37
“Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando, nunca satisfeito com a riqueza que tem. Para que é que ele trabalha tanto, deixando de aproveitar as coisas boas da vida? Isso também é ilusão; é uma triste maneira de viver.” Eclesiastes 4.7,8